quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A Lei da Impermanência e o câncer

Um dia, após uma das minhas sessões de quimioterapia, não lembro qual, conversando com o meu irmão pelo Whatsapp (celular), ele me falou sobre a lei da impermanência. Vou colocar aqui o que é a Lei da Impermanência.

"O que nasceu, há de morrer,
o que foi reunido se dispersará,
o que foi acumulado há de esgotar,
o que foi construído, há de ruir,
e o que foi elevado, há de baixar."

Buda

Daí fiquei refletindo a lei da impermanência e o câncer, e realmente faz sentindo, nada dura para sempre, nada poderá se manter eternamente sob uma condição. Hoje vejo isso melhor, enquanto estava fazendo o tratamento, parecia que nunca ia acabar, que aquela era a minha condição por muito tempo e eu sofria como se fosse, mas agora estou eu aqui, em casa, super bem e lembrando daquilo como passado!
Tirei essas palavras de um blog que gostei muito de ler, aqui vão:

"Quando observamos a mente, identificamos que ela parece uma pulga pulando de um lado para o outro. Milhares de pensamentos inúteis perturbam a nossa mente a cada segundo. E nossas emoções acompanham esses pensamentos.

Portanto, se os pensamentos são triste, ficamos tristes; se mudarmos a frequência e pensarmos em coisas felizes, ficaremos felizes! Isso é só uma pequena demonstração de como somos escravos dos nossos pensamentos.

Os pensamentos dão forma às nossas vidas. Somos aquilo que pensamos. A menor forma de pensamento afeta a nossa realidade."

Achei demais esse texto que a Tamara escreveu no blog dela pois para mim diz tudo sobre como passar e vencer o câncer. Nós somos os donos dos nossos pensamentos, e podemos controlá-los sim! Pensem nisso! Não é por que você está doente ou alguém próximo de você está doente que você vai cultivar pensamentos negativos, traga a força que tem dentro de você e passe por isso como se fosse uma doença qualquer, por que no final, será ! Força à todos que estão passando pelo câncer no momento, nós venceremos! E se os pensamentos negativos chegarem perto, faça um exercício mental e pratique o que diz esse texto, pratique rir mais, ler, escutar, ver coisas que te fazem feliz e te fazem gargalhar e, por fim, a angústia irá passar!

Um beijo no coração de todos !



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Uma fotinho tirada em casa, após a saída do hospital. A máscara ainda vai comigo para alguns lugares, principalmente perto de crianças em idade escolar.

Última postagem/My last post?

Boa tarde amigos!

Então, já estou ensaiando escrever no blog há pelo menos uma semana e estou naquela indecisão, paro ou não o blog? Saí do hospital no dia 14/11, já se passaram quase duas semanas. O que aconteceu nessas duas semanas? Nada além de alguns efeitos ainda da quimioterapia, fora isso, não tenho feito nada, tudo de casa. Os médicos foram categóricos com relação a isso: - Você pode estar quase bem por fora, mas por dentro, tem muita coisa ainda para melhorar. Por isso, tomo antibiótico e antiviral para combater vírus e bactérias. E é verdade, a minha imunidade está melhorando a cada dia, meus exames mostram isso, mas a primeira semana após o hospital foi muito difícil (nada tão difícil comparando-se ao hospital, é claro!), achava que ia sair do hospital comendo tudo que via pela frente e me sentindo ótima, mas na real, penei um pouquinho, principalmente na primeira semana, me sentia fraca a maior parte do tempo, dormia muito, a diarreia não ia embora, o enjoo era diário, foi um desastre para comer pois o meu paladar não voltava e a boca estava sempre amarga, fiquei frustrada (mas nada que se comparasse ao que já tinha passado, então estava  feliz). Hoje eu ainda tenho enjoos matinais, e às vezes nem são somente matinais, depende, se meu estômago estiver vazio, é enjoo na certa, o paladar ainda não voltou totalmente mas está MUITO melhor, a minha pele ainda está cheia de manchas escuras, mas eu sei que isso tudo vai passar, logo, logo.

Fui ao doctor na semana passada, ele adorou os exames, disse que estou progredindo e já me falou que é normal me sentir fraca, sem energia, com enjoos e tal.  Avisou também que a radioterapia começa em Janeiro, irá durar 3 semanas, serão sessões diárias, 5x por semana. A radioterapia não é invasiva como a quimioterapia e acho que me dará menos efeitos, pelo menos eu tenho pesquisado na internet e vi isso (ai que ótimo!). Os efeitos dependem muito de onde a radioterapia é feita, no meu caso, será no pescoço e no tórax, provavelmente terei um probleminha para engolir a comida e tal (lá vão novamente os problemas com comida....kkkk), mas estou mais tranquila, só de não ser invasivo, de não ter agulhas entrando o tempo todo no corpo, é ótimo! Depois disso, começo a fazer os exames trimestrais (tomografia e exame de sangue) e é aí que o coração acelera, a mão fica fria e eu quase caio no choro pois fico nervosa para saber o resultado do exame.

A razão pela minha indecisão de continuar ou não o blog, é a seguinte: O blog me lembra a doença e o tempo no hospital, e como eu estou quase terminando o tratamento, não sei se fico ainda alimentando isso ou não! Quanto mais eu penso na minha condição, mais besteira me vem a cabeça, como por exemplo acordar no meio da noite e querer ter a certeza de que vou ficar curada. Mas esse tipo de coisa não fica me assombrando o tempo todo. Agora sim, tenho fé que vou ficar curada sim, tenho certeza de que isso vai acontecer, mas não há outra maneira de saber, tenho que fazer os exames e ficar na expectativa. Ou seja, não é fácil não criar expectativas! Vamos viver um dia de cada vez.

Queria deixar algo aqui para as pessoas que irão ler o meu blog. Não se assustem com o câncer, é uma doença grave, mas existe cura, a medicina está avançada e pode te curar, vai te dar um pouco de trabalho, para alguns, muito trabalho, mas nada disso é escondido de você, você vai saber o que vai acontecer, e se viver um dia de cada vez, você consegue! Muitas pessoas no mundo estão passando pelo câncer, o seu caso não é inédito. Leve a doença como uma outra qualquer, por que você verá, é doloroso fazer quimioterapia, mas depois você acaba entrando no ritmo. Respeite as etapas até a sua aceitação total da doença. Algumas pessoas aceitam de imediato (foi o meu caso ano passado), outras passam por etapas de raiva e descrença  até a sua completa aceitação (foi o meu caso esse ano!), mas creia que você vai conseguir e que você é forte. Uma vez uma colega me disse: -Creia em você! E é verdade, um pouquinho de fé que nós mesmos podemos passar por tudo, sempre ajuda.

Outra coisa que gostaria de fazer é AGRADECER à todos que oraram por mim, que me enviaram mensagens no Facebook, e-mail, que pensaram em mim, que me ligaram, que de alguma forma se mostraram solidários. Foi muito importante saber que tantas pessoas pensaram em mim com carinho e desejo de recuperação total! Me emocionei demais com algumas manifestações, fiquei sabendo até de uma missa em outro país! Chorei de emoção e agradecimento.

E por fim, não sei se o blog vai continuar, mas vai ficar paradinho por um tempo, vou deixar essa questão em aberto, talvez volte a escrever quando eu começar a radio, talvez não, não sei!

Beijo, beijo, beijo!

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SOPA !

Esse momento mereceu foto, a primeira sopa após o transplante, fui até a metade do pote, mas já tá valendo !

TMO / Transplante de Medula Óssea / Resiliência

Olha que aqui novamente !!!!!!!!!!! Prepare-se, este post vai ser longo!

Bom, estou no D+9 após o transplante e isso me propicia uma melhora absurda a ponto de começar a contar a minha história para vocês.

Como já havia dito no Facebook, finalmente aceito o título de Guerreira, não estava aceitando antes pois não me sentia mais guerreira que ninguém e não achava justo, mas depois desses 17 dias enclausurada nesse hospital, sendo levada ao extremo da paciência, dor, ansiedade, medo, sentindo o meu corpo se deteriorando e sofrendo sem parar, sendo bombardeado e atacado pela quimioterapia que fiz antes do transplante, realmente tenho que concordar, fui muito guerreira!!

Quando a gente interna (sábado dia 27), não tem a mínima noção do que acontecerá aqui. Então logo no primeiro dia, o primeiro choro de desabafo aconteceu após a colocação do cateter no pescoço. Sim, é incomodo colocar, a anestesia dói, e depois que ele vai colocando o cateter, pude sentir descendo até perto do coração. Check. Primeira prova de que não seria fácil viver aqui por mais de duas semanas. Mas ainda há muito por vir. Comecei logo a hidratação de 5 litros de soro antes da primeira quimio. Essa hiper hidratação durou até um dia pós o transplante. Pense no incômodo de um novo ser no seu cangote, costurado a sua pele, preso a uma maquininha ao lado da sua cama confortável, que toca a cada duas horas pois cada bolsinha de soro durava somente durante duas horas. Ok, fui muitas vezes ao banheiros, muuuuuuuitas.

O dia seguinte (domingo dia 28) foi a primeira super quimio. O protocolo que é usado em transplantes chama-se BEAM (BCNU, etoposide, aracytin, melfalan). Essa primeira é bem complicadinha e tive que ser monitorada pois ela é bem forte. O coração acelerou a 149 batimentos e minhas bochechas ficaram bem rosadinhas, e pude sentir na hora um mal estar bem típico de quimioterapia. Sai Hodgkin !!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Na segunda (29) já começaria a etoposide e aracytin, duas vezes ao dia, cada uma correndo a cada duas horas. Então eu fazia quimio do meio dia até às quatro da tarde. Ás dez da noite já começava a tomar a bateria de remédios pré quimio. À meia noite estava começando novamente até às quatro da manhã. Dormir para que? Não estamos eu e minha mãe a passeio no hospital, estamos aqui para matar o Hodgkin!! Sai Hodgkin!! Nos intervalos entre uma quimio e outra, já podia sentir o paladar diferente e a rejeição a comida. E claro, nesses intervalos, muitas idas ao banheiro, pois 5 litros, meu amigo, é muito xixi. Ah, e foi xixi na comadre, pois como eu estava hiper hidratando, os médicos tinham que medir o que sair e o que entrava pois hiper hidratar pode afogar os meus lungs (pulmões). :-)

Bom, cheguei a um ponto, acho que no terceiro dia, de desespero total, nunca havia me sentindo assim. Eles entraram para colocar as bolsinhas milagrosas e começar mais uma quimio e eu tive um faniquito, me senti enclausurada, ficava muito impaciente com enfermeiros entrando dia e noite naquele quarto, entregue aos remédios e quimioterapia (é muito difícil ver a quimio como a sua aliada) queria sair daqui correndo, pensei em ligar para o meu médico e desistir (olha a gravidade). Pedi que abrissem a porta do meu quarto na esperança de eu ver gente no corredor (mas não vi pois estava numa ala isolada), entrar um ar, sei lá, o desespero foi assustador, não tive controle sobre as minhas emoções, perdi o controle da situação. Nunca na minha vida pensei em desistir assim, meu Deus, foi desesperador. Digo agora por experiência, o melhor é ir dormir. Dormir e acordar diferente, foi isso o que aconteceu. Meus anjos da guarda estavam comigo o tempo todo e me ajudaram nessa hora! E assim sobrevivi a primeira semana, a última quimio foi a melfalan, na sexta feira, e ela correu em 15 minutos. Até lá já estava comendo somente o que vinha de carne no prato, não bebia líquidos.

O transplante aconteceu no sábado, uma semana após a internação (dia 03). Foi tranquilo, apesar do fato de eu estar com muita dor de estômago, o quarto estar cheio e eu estar com muito calor embaixo daquele campo (lençol esterilizado que eles usam cirurgias para colocar no paciente). Recebi as minhas células de volta em 6 bolsas. É igual a uma transfusão de sangue, durou um pouco mais de uma hora e meia. Todos ali estavam super felizes, e eu só queria dormir, dormir para o tempo passar rápido. Todos falavam em renascer, que esse era o dia do meu renascimento. Mas agora, pensando em tudo, o renascimento é um conjunto de coisas, foi tudo o que me aconteceu. Mas não posso tirar o mérito do transplante pois os médicos me explicaram que depois dessa semana toda da quimioterapia fortíssima, eu não poderia sobreviver sem esse transplante, a minha medula nunca mais iria voltar a funcionar e eu morreria. Hello?! Só agora estou entendendo a gravidade da coisa!!! Aliás, fizemos inúmeras perguntas aos médicos e agora posso dizer que estou igual ao meu padrasto Tião, um phd em transplante, doença de hodgkin e por aí vai. rsrsrsrs

Passei o domingo após o transplante relativamente bem, o Ro foi para casa e minha mãe chegou. Lembrete: minha mãe e cúmplice pegou os piores momentos nessa internação. Sempre que o Ro chegava no final de semana ele se dava bem pois o pior já tinha passado. heheheheeh

O pior ainda estava por vir (como assim?! Achei que já tinha passado hell na primeira semana). Na verdade as duas semanas foram totalmente diferentes uma da outra. Os sintomas da super quimio começaram para valer mesmo na segunda dia 05. Os dias 05, 06, 07, 08, 09, e 10 de Novembro foram marcados por muito sofrimento, muito sofrimento. Nunca me senti assim. Eu já estava tão exausta de estar me sentindo mal que só fechava os olhos e esperava o tempo passar. A super quimio realmente quis destruir tudo o que havia de maligno nesse corpo e com certeza destruiu. Para começar, o paladar se foi. Amargo era a nova palavra do dia. Preciso dizer que a esse ponto NADA mais entrava no meu estômago? Pois é, nem água. Aliás, água, já não bebo há 10 dias. Minha boca e língua se transformaram em algo branco, meus lábios soltavam pelinhas grossas, minha garganta foi tomada por uma leve mucosite (graças a Deus não se intensificou), meu estômago já nem sei mais o que era e minha fisionomia era de uma pessoa que tinha ido fazer bronzeamento artificial (fiquei marrom mesmo). A diarreia veio com tudo. Pelo menos um episódio de vômito diário (sofria muito nessa hora pois fazia uma força muito grande e quase nada saia). O mal estar da quimio veio ferrenha, e era como se a minha pressão estive no pé a todo tempo. Aliás, esse sintoma para mim é devastador, não gosto mesmo, me sinto muito abatida e debilitada. Às vezes acordava bem e achava que os efeitos já estavam passando, não, não estavam, lá vinham eles novamente. Ligado a isso tudo eu ainda tinha o famoso exame de sangue às 3 da matina! Esses exames começaram no dia 27 e até hoje ainda estou fazendo eles. É através deles que eles me monitoram, checam os sais minerais para o meu soro, células do sangue e etc. Elas entravam, colocavam o garrote e ai meu Deus! Nunca doeu tanto para fazer um exame de sangue. Muitas noites eu não dormir pensando nesse povo entrando e me furando. Minhas veias estavam muito doloridas. Já fiz 19 exames e o meu bracinho já está bem castigado.

Enfim, cheguei ao fundo do poço mesmo, a ponto da enfermeira Eliane chamar a psicóloga do hospital. Já não falava com mais ninguém. Queria economizar toda a energia que ainda existia no meu corpo e mente. Mas lembrava também do que a Eliane sempre me dizia: você já está no fundo do poço, agora não tem mais para onde ir, é só subir. Eu dizia para ela que aquilo era o inferno na terra e ela me dizia: -Inferno não, você não está no inferno, está passando por um deserto. Que fofa a Eliane, ela nos trouxe muita alegria! Aliás, não escrevi aqui nada ainda sobre a minha mãe, a minha cúmplice, o meu anjo da guarda que literalmente me segurou em todos os momentos, nos vômitos, no banheiro, andando para ir ao banheiro (sair da cama era um desafio), para tomar banho e etc. Não é fácil para uma mãe ver seu filho ou filha se deteriorar e não responder a nada, sem ânimo e abatida. Sem ela, não sairia dessa. Mainha, você é tudo na minha vida!

Sábado (10) chegou e trouxe o meu maridão e mais uma vez ele me viu bem :-) Tadinho do meu lindo, eu sei que ele queria estar aqui para fazer tudo que minha mãe fez, mas estava trabalhando e garantindo o nosso, o que é mais importante! Você é o meu orgulho, meu amor!

Posso dizer que domingo (11) foi o primeiro dia de 90% de melhora, já não tenho vômitos, tive ainda alguns episódios de diarreia mas nada grave. O paladar não voltou até agora, então não estou comendo nada ainda. Mas me sinto novamente a Christiane que entrou aqui no dia 27! Que benção! Os leucócitos já estão em 900 (agora eles só sobem). As plaquetas ainda estão sofrendo para serem produzidas e hoje já recebi mais uma transfusão. A médica passou aqui e disse que está muito feliz com o meu progresso e acha que quarta ou quinta eu devo estar liberada!!

Gente, foi muito sofrimento, isso com certeza vai me marcar para o resto da vida, mas vai ser passado, pois quero esquecer essa doença de uma vez por todas, sou uma pessoa cheia de alegria e muito feliz, uma pessoa que agora com certeza olha para as outras diferente. Pensei que já tinha aprendido isso antes, mas a coisa foi muito mais intensa dessa vez e me confirmou que o PRESENTE é onde temos que estar. Sempre com responsabilidade é claro. Cada momento que você vive com um ente querido, um parente, uma amigo, um colega de trabalho, enfim, o próximo, é muito especial.  O que conta nessa vida são os relacionamentos que você conquista, onde você se doa de qualquer forma, emocional ou material. A vida é muito curta e estive muito próxima da morte, não quero mais perder tempo em dizer para aqueles que eu amo, que eu os amo, em aproveitar muito o meu marido e a minha família.

Outra coisa que gostaria dizer. Por mais que você esteja no fundo poço, o dia em que você chegou aos seus limites e não aguenta mais, feche os olhos e espere passar, acalme o seu espírito e pense somente que vai passar e aguarde esse dia, por que passa!! Resiliência é a palavra, aceite o momento, respeite-o e aprenda com ele.

Para os meus guerreiros de luta: 
Resiliência: Capacidade que um indivíduo apresenta após momento de adversidade conseguindo se adaptar ou evoluir positivamente frente à situação.

E finalmente: SAI HODGKIN, JÁ PROVEI QUE SOU MAIS FORTE QUE VOCÊ, VOCÊ NÃO TEM MAIS ESPAÇO NA MINHA VIDA!

Um beijo, beijo, beijo, beijo e obrigada pelas orações !!!!!